Está na hora de trabalhar o desapego
A gente sabe que falar sobre “inovação” no contexto organizacional já virou assunto recorrente e o que não falta no mercado é bibliografia que trate sobre o tema. O texto de hoje não é para discutir a inovação em si, mas vamos partir desse assunto para chegarmos a uma questão um pouco mais ampla e que tem interferido diretamente nos resultados de negócio de organizações diversas.
Vamos começar por uma pergunta bem simples: inovar é para qualquer um?
Provavelmente, você já ouviu dizer que sim. E, realmente, a inovação pode acontecer em qualquer tipo de organização, de qualquer porte ou segmento, uma vez que ela não depende exclusivamente do aporte de investimento financeiro que a empresa está disposta a fazer. Sendo assim, por que ainda não conseguimos ver a inovação como parte da rotina de um grande número de instituições? Essa é uma pergunta que, certamente, tem várias respostas, mas aqui vamos nos ater a uma das possíveis causas dessa questão: o medo de abandonar velhos paradigmas.
Mudar certamente não é algo simples. Faz parte da essência do ser humano permanecer na sua zona de conforto, aquele lugarzinho onde tudo é familiar e muito bem conhecido. Se as empresas são compostas de pessoas (e se são essas mesmas pessoas as responsáveis pelas tomadas de decisão), nada mais natural do que haver resistência em processos que modifiquem padrões já estabelecidos.
O comportamento organizacional tende a uma manutenção de padrões
Se pararmos para analisar o desenvolvimento da indústria e das empresas de forma geral ao longo do tempo, é possível encontrar uma série de modelos que proporcionaram a consolidação de grandes corporações em posições de liderança de mercado durante várias décadas. Um caso bem conhecido dentro dessa discussão é o da KODAK, líder por anos do segmento de fotografia, e criadora da tecnologia digital na década de 70. Entendendo que essa descoberta colocaria em risco a sua principal fonte de receita da época, o mercado de filmes de película, preferiu manter o fato em sigilo. Nesse caso, conseguimos identificar, de maneira bem explícita, dois paradigmas que não foram quebrados:
1- A ideia de que os produtos da empresa que estavam estabelecidos eram parte importante do sucesso da organização e que, por isso, não poderiam ser modificados;
2- A ideia de que os conhecimentos desenvolvidos internamente não deveriam ser compartilhados com o mercado externo, mas sim mantidos em total sigilo.
O apego a essas duas orientações acabou por transformar a grande líder KODAK em apenas mais uma coadjuvante quando o segmento, algumas décadas depois, foi, inevitavelmente, revolucionado por aquela mesma tecnologia já conhecida pela equipe da empresa. A Nokia também sofreu com a não flexibilização de velhos modelos quando insistiu em manter o seu antigo sistema operacional Symbian em seus aparelhos, enquanto os seus concorrentes investiram pesado no mais avançado Android. E, assim como as duas gigantes, poderíamos citar aqui uma série de outros exemplos de organizações (de diversos segmentos e portes) que perderam espaço por estarem apegadas demais aos seus padrões e não conseguirem se adequar às mudanças exigidas pelo cenário externo.
Quando é a hora de começar?
Voltando à questão da inovação, é fato que ela é um dos fatores que tem garantido a sustentabilidade de várias empresas, principalmente em segmentos muito competitivos. Porém, colocar em prática projetos ou atitudes inovadoras exige uma boa dose de ousadia e desapego. Como já dissemos em um post anterior, ao longo dos últimos anos, constantemente, nós ouvimos a seguinte queixa: “o mercado mudou e vender nesse cenário é cada dia mais difícil”. Se essa já é uma realidade que anda tirando o sono de muita equipe gerencial, pode ser uma boa hora para se considerar a viabilidade e a aceitação das mudanças, até mesmo naqueles pontos do negócio que “sempre deram certo e que sempre funcionaram muito bem da maneira como são e estão”. Considerando o nosso contexto de cenários e comportamentos cada vez mais voláteis, é importante ter em vista que até mesmo as estratégias e táticas que trazem bons resultados precisam ser constantemente monitoradas e revistas.
É claro que abandonar o instinto (humano e super legítimo) de autopreservação que, muitas vezes, é o que leva ao apego a velhos paradigmas, não é tarefa simples. Mas, não custa nada começar a partir de um primeiro passo. Qual você acredita que possa ser o seu?
Mariana Anselmo, Sócia-Diretora da Argumento Digital
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